O músico norte-americano John Prine, protagonista do folk, cronista das condições de vida da América, morreu na terça-feira, em Nashville, Estados Unidos, aos 73 anos, infetado com o novo coronavírus, informou a família.
John Prine, que preparava uma digressão europeia para a temporada 2020/2021, a começar no Reino Unido e Irlanda, foi internado no passado dia 29 de março, por complicações associadas à covid-19. A sua morte foi comunicada pela família à revista Rolling Stone.
Nascido em 1946, em Maywood, no estado do Illinois, Prine era um carteiro de Chicago, que levava as suas canções aos clubes folk da cidade, na viragem da década de 1960 para a seguinte. Aí foi descoberto pelo cantor Kris Kristofferson, que o levou para a editora Atlantic, dando origem ao seu primeiro álbum, “John Prine”, em 1971.
O percurso na música ficou garantido desde então, os trabalhos que se seguiram, como o LP “Bruised Orange” (1978), e com as suas canções a entrarem no repertório de cantores como Kristofferson, Johnny Cash e Joan Baez, entre outros.
Na década de 1980, John Prine fundou a sua própria editora, Oh Boy, que continuou a editar os seus trabalhos.
Artista nem sempre presente nos palcos, preferindo um “discreto segundo plano”, como chegou a afirmar, conquistou porém dois Grammy e manteve a admiração dos seus pares, que se juntaram a si em “The Missing Years” (1991).
Este disco valeu-lhe a primeira distinção de melhor álbum, e marcou um dos seus vários regressos à música, com as colaborações de Bruce Springsteen, Tom Petty, John Mellencamp e Bonnie Raitt, depois de vários anos de silêncio.
“A obra de Prine é puro existencialismo, estilo Proust”, disse Bob Dylan sobre o cantor e compositor, numa entrevista ao Huffington Post, em 2009.
“Viagens através do ‘midwest’ elevadas ao enésimo grau”, acrescentou o Nobel da Literatura sobre o músico. “E escreve canções maravilhosas (…). ‘Sam Stone’, o pai e soldado viciado em drogas, ou ‘Donald e Lydia’, o casal que se ama a dez mil milhas de distância. Ninguém a não ser Prine as poderia escrever”, assegurou Dylan.
Em 1998, John Prine teve um primeiro cancro na garganta, o que alterou a sua voz, tornando-a mais rouca e grave. Anos depois, haveria de sobreviver a um cancro nos pulmões. E continuou a compor e a cantar.
Em 2005, lançou “Fair & Square” (2005), o seu segundo Grammy de melhor álbum folk, seguindo-se “The Tree of Forgiveness”, em 2018.
No passado mês de dezembro, a academia da indústria discográfica dos Estados Unidos anunciou a entrega a Prine, este ano, do Grammy honorário de carreira, numa cerimónia prevista para o próximo dia 18 de abril em Pasadena, Califórnia, entretanto cancelada, por causa da pandemia.
Membro do ‘Hall of Fame’ dos compositores de música popular dos Estados Unidos, Prine foi nomeado 11 vezes para os Grammy, por quase todos os seus álbuns e as suas canções.
A morte de Prine foi de imediato lamentada por figuras da cultura norte-americana como o escritor Stephen King, a atriz Olivia Wilde, o ator e apresentador Stephen Colbert e o ator e produtor Ken Olin, que lhe prestaram homenagem nas redes sociais.
“Aqui em E-Street, estamos destroçados com a morte de John Prine”, disse Bruce Springsteen. “John e eu fomos ‘novos Dylan’ nos anos 70 e ele foi sempre o tipo mais encantador do mundo. Um verdadeiro tesouro e um compositor para a posteridade”, acrescentou o criador de “Born to run”.
“Ouvimos-te de menos, mas as tuas canções perdurarão”, escreveu Sheryl Crow.
“Obrigada por muito mais do que podíamos merecer”, escreveu a banda Dawes, de Los Angeles.
John Prine encerra o seu derradeiro álbum, “The Tree of Forgiveness”, com “When I get to heaven”, a canção onde diz o que vai fazer quando morrer e “chegar ao paraíso”: apertar a mão a Deus, pegar numa guitarra e criar uma nova banda rock, dar entrada num hotel, beber um cocktail de vodka, com ginger ale, fumar um ‘charro’ e beijar uma rapariga bonita, porque “este velho homem está de volta à cidade”.
Lusa