Os produtores de mel DOP Serra da Lousã já repuseram cerca de metade das mais de 4.000 colmeias que arderam nos fogos de 2017, disse hoje uma fonte da cooperativa responsável pela marca.
“Ainda nos falta repor 2.300 colmeias”, adiantou à agência Lusa Ana Paula Sançana, directora executiva da Cooperativa Lousãmel, com sede na Lousã, distrito de Coimbra.
No entanto, o levantamento efectuado mais de um ano após os grandes incêndios de 2017 – que eclodiram em Pedrógão Grande e na Lousã, em 17 de Junho e 15 de Outubro, respectivamente – “abrange apenas os sócios” da empresa, ressalvou.
Ana Paula Sançana admitiu que fora desta contabilidade fica um número indeterminado, “mas significativo”, de colmeias perdidas por apicultores sem ligação à Lousãmel, mesmo que optem pela certificação.
Embora aquém das previsões iniciais da cooperativa, que assume a gestão da denominação de origem protegida (DOP) Serra da Lousã, “em 2018, já existia uma grande parte delas recuperada”, acrescentou.
O incêndio de 17 de Junho de 2017 causou danos avultados nos apiários de três concelhos que integram a região demarcada – Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos – mas os fogos de 15 e 16 de Outubro “destruíram a maior parte” das colmeias ardidas nesse ano.
Como incentivo à reposição do potencial produtivo do mel DOP Serra da Lousã, cuja flora é caracterizada pela predominância de urzes diversas, a Lousãmel doou aos associados 25 rainhas por cada 50 colmeias perdidas, a fim de acelerar a reconstituição dos enxames.
“Este processo de recuperação está muito dependente das políticas florestais que forem adoptadas” pelo Estado, através do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), disse Ana Paula Sançana.
Na sua opinião, a preservação das manchas florestais primitivas que sobreviveram aos fogos e a reflorestação das áreas ardidas com espécies autóctones, a par do combate às exóticas e invasoras, como eucaliptos e mimosas, serão determinantes para que este mel de qualidade tenha futuro.
Entretanto, as colónias de vespa asiática têm vindo a dizimar e a enfraquecer os apiários da região.
A sua proliferação “tem impedido uma recuperação mais efectiva” das colmeias consumidas pelos incêndios, segundo a dirigente.
Na Serra da Lousã, “não há um único produtor que não tenha sido afectado” por este problema.
Os ataques redobrados da vespa asiática têm aumentado a mortalidade das colónias, o que “exige mais assistência e cuidado no maneio” por parte dos proprietários, explicou.
“Estivemos o verão todo de 2018 a alimentar abelhas com suplementos”, o que antes só acontecia nos meses mais frios e chuvosos do inverno, lamentou Ana Paula Sançana.
A técnica congratula-se com a reposição de cerca de 50% das colmeias de mel DOP Serra da Lousã.
“Mas não quer dizer que consigamos recuperar em termos de produção de mel”, anteviu.
Em 2017, os incêndios consumiram extensas áreas florestais onde há séculos predominavam os urzais, cujas flores estão na base das características únicas deste mel.
As produções de mel DOP sofreram em 2018 uma quebra de 90%, o que em Novembro justificou a abertura da feira do sector, na Lousã, a apicultores locais sem certificação ou mesmo oriundos de outras regiões demarcadas de Portugal.
Com mais de 450 associados, a Cooperativa Lousãmel abrange 10 municípios: Arganil, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Penela e Vila Nova de Poiares, nos distritos de Coimbra e Leiria.
LUSA